De sonhar ninguém se cansa, porque sonhar é esquecer, e esquecer não pesa e é um sono sem sonhos em que estamos despertos.
Disse isto Fernando Pessoa. E não é que estava certo? De sonhar ninguém se cansa, pelo menos ninguém que eu conheça. Sonhar é esquecer, diz-nos ele. Será? Se formos a ver, sim, é verdade. Sonhar é criar, à primeira vista, mas é criar o sonho. Se criamos o sonho, ignoramos o real. Esquecemos a nossa condição real. Sonhar é esquecer, e esquecer não pesa. Esquecer não pesa pela mesma razão lógica de termos um saco de batatas na mão, tirarmos as batatas, e constatarmos que o saco está mais leve. Tirar para fora as preocupções, eliminá-las, dá-nos mais flexibilidade (apesar de, na minha opinião, nos desproteger - a memória é uma auto-defesa forte, tal qual as vacinas). Por último, Fernando Pessoa diz que sonhar "é um sono sem sonhos em que estamos despertos". Penso que é ensta última parte que se encontra grande parte da essência do pensamento, e por isso vou explorá-la com um pouco mais de pormenor.
Se considerarmos que pessoa se referia ao "sonhar", vemos que existem contradições misteriosas no resto da frase: sonhar é um sono sem sonhos. Podemos pensar que quando sonhamos estamos como que adormecidos. Mas quando dormimos a sério temos sonhos, muitas vezes imprevistos. Eles surgem, simplesmente, sem a nossa vontade. Mas o Sonhar a que Pessoa se refere é aos nossos desejos, naqueles em que nós intervimos conscientemente. Por isso sim, sonhar é um sono (visto que estamos "adormecidos" para a realidade") sem sonhos (dos que nos aparecem sem nós querermos). Sonhar é uma tarefa consciente que nos adormece. E então surge o último extracto da frase: "em que estamos despertos". No fundo, é a confirmação do que já formulei. Um sono não levado à letra.
Tiago.
1 comentário:
Se a Humanidade não sonhasse ainda estaríamos no tempo dos... dinossauros! Tb não exageremos, mas o sonho é o fundamental para sermos aquilo que somos neste momento - bom ou mau, somos produto dos sonhos, de muitos sonhos!!!!
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